sexta-feira, 21 de agosto de 2015

A sentença de Bernardo Uglione Boldrini


NO BRASIL, NÃO TEMOS A PENA DE MORTE: ENTÃO O QUE ACONTECEU COM O MENINO BERNARDO?

Texto de Irineu Coelho, publicado em 30/04/2014.
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Foto: arquivo pessoal

... A crueldade, a frieza, a torpeza e o mais absoluto desrespeito para com a vida humana transformaram o episódio envolvendo a morte do garoto Bernardo Uglione Boldrini em um filme de terror não recomendado para o público de todas as idades. Ninguém deveria assistir. É uma trama de horror que manchou de forma indelével a história da pequena cidade de Três Passos, no Rio Grande do Sul. Imagine a revolta dos moradores. Como se não bastasse um ato tão repugnante, também terão que engolir o fato de que a pacata cidade está na boca do Brasil, e quiçá do mundo, por um motivo para lá de absurdo. Fico pensando sobre essa questão. Temos a responsabilidade de enaltecer a nossa terra, seja através de nossas obras, através da arte, da cultura.
Muitas cidades de Minas Gerais, por exemplo, são conhecidas mundo afora por causa da comida, das obras de arte, da música, da poesia ou descobertas. E é assim em todos os estados da federação. Aliás, é assim pelo mundo. Alguns nomes levam sua terra natal para além das fronteiras do espaço e do tempo, singrando rumo à eternidade. Cito como exemplo o que Carlos Drummond de Andrade fez por Itabira de Mato Dentro e Oswaldo França Júnior por Serro. Quem não conhece a obra do poeta maior que não tropeçou na pedra que estava no meio do caminho? Milhões já viajaram no caminhão da série Carga Pesada, baseada no romance Jorge, Um Brasileiro. Itabira e Serro são duas cidades mineiras que tiveram a felicidade ser o berço de dois autores inesquecíveis.

Já Três Passos, no Rio Grande do Sul, teve o infortúnio de ser o local onde moravam alguns monstros que detestam crianças. Fomos apresentados a esse Município da pior maneira e por mais que tentemos esquecer os motivos que nos levaram a conhecê-lo, jamais conseguiremos. Alguns acontecimentos marcam para sempre toda uma comunidade e as feridas abertas vão passando de geração em geração, e de vez em quando sangram.

É possível que o garoto Bernardo tenha sido enterrado ainda com vida, depois de ter recebido uma injeção letal. Para que não houvesse a necessidade de faca, revolver, martelo e sangue, injetaram anestésico no menino. Condenaram Bernardo à morte. Ele, um moleque inocente, querido na cidade, mas maltratado pelo pai e pela madrasta. Não cometeu nenhum erro grave a não ser acreditar no seu algoz. Não praticou ato infracional e viveu num país, cuja Constituição não permite a pena de morte. Mesmo assim foi condenado e executado com injeção letal. 

Dos estados norte-americanos que ainda permitem a pena de morte, 32, salvo engano, utilizam a injeção letal para matar o criminoso de forma lenta e silenciosa. Um coquetel de medicamentos é utilizado e não há dor nem consciência do condenado que falece com os pulmões paralisados e o coração sem forças. Sendo a pena de morte sempre vista como um trabalho brutal, sujo, asqueroso, seja qual for o processo utilizado: fuzilamento, enforcamento, eletrocussão, câmara de gás, decapitação, a injeção letal tornou-se o método quase que exclusivo de execução nos Estados Unidos. Alegam que é menos doloroso e mais humano. Será?

Condenaram Bernardo à morte. Não houve acusação formal, nem contraditório ou ampla defesa. Sequer disseram o motivo da condenação à morte. Foi um ato de tirania. Ele pensando que iria se benzer ou comprar uma TV. Os monstros só queriam o dinheiro. A madrasta, sua amiga e um acordo financeiro. E o pai de Bernardo? Será que não sabia de nada? A Polícia garante que tinha conhecimento e concordou com a sentença a ser sumariamente executada sem direito a qualquer recurso. Duas mulheres e um homem, ao centro, um menino de onze anos que insistia em ganhar o carinho de alguém. Ganhou uma cova rasa e soda cáustica sobre o seu corpinho indefeso. 

Nas Faculdades de Direito insistimos em ensinar e aprender que não temos em nosso país a pena de morte, salvo em caso de guerra declarada. O leitor acredita nisso? Então, o que aconteceu com o garoto de Três Passos?
Um médico, uma enfermeira, uma assistente social... Pessoas que deveriam apenas salvar vidas, proteger, minimizar desigualdades, amparar na dor. Além de médico, pai... Além de enfermeira, madrasta... Assistente social... Quanta selvageria!

OBSERVAÇÃO: Bernardo Uglione Boldrini: nós te amamos eternamente! E não vamos descansar até a  absoluta, incondicional, irrestrita, total...

JUSTIÇA PARA ODILAINE E BERNARDO UGLIONE BOLDRINI!


Um comentário:

  1. Difícil traduzir em palavras o que foi feito com Bernardo.
    Bernardo estava sendo morto, aos poucos, durante estes quatro anos de vida, após a morte de sua mãe. A sentença final foi uma cova rasa vertical as margens do Rio Mico.
    Eu sinto muito por você, Bernardo. E o que queremos é pena máxima para seus algozes.
    JUSTIÇA PARA BERNARDO E ODILAINE UGLIONE.

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