quarta-feira, 8 de abril de 2015

O Triste Olhar De Bernardo


FRIEZA DO PAI E MADRASTA E OLHAR TRISTE DE BERNARDO FORAM MARCANTES.

 Fotos / Arquivos pessoais.

O Jornal Correio do Povo entrevistou em 04/04/2015, por e-mail, a Promotora Dinamárcia Maciel de Oliveira, responsável pela denúncia que levou os quatro réus para trás das grades: Leandro Boldrini, Graciele Ugulini, Edelvânia Wirganovicz e Evandro Wirganovicz, acusados da morte do menino Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, em 04/04/2014. Na entrevista ao Correio do Povo,  a Promotora relata suas impressões sobre o caso, falando inclusive sobre a atuação do Ministério Público na situação do menino: tudo que estava ao alcance do Órgão foi feito para proteger Bernardo, infelizmente não foi o suficiente. Como Dinamárcia diria na época e agora repete com outras palavras:
- "Para psicopatas não existe rede de proteção imune".

Veja abaixo o link sobre o assunto e a seguir a transcrição da entrevista:


Correio do Povo: 
- "Um ano após a descoberta do assassinato de Bernardo e cerca de 10 meses, após a apresentação da denúncia do Ministério Público, a senhora ainda mantém a convicção de que o crime foi cometido a oito mãos (do pai, da madrasta e de Edelvânia, com a ajuda do irmão dela, Evandro?)" 

Promotora Dinamárcia: 
- "A convicção que tive quando formulei e assinei a denúncia permanece íntegra e representa verdadeiramente, uma convicção do Ministério Público: as quatro pessoas denunciadas concorreram para a morte de Bernardo Uglione Boldrini e ocultação do seu cadáver, com condutas bem definidas de participação. Os elementos de informação e as provas constantes no Inquérito Policial, que apurou o homicídio foram bastante elucidativos para descortinar a autoria desse crime hediondo." 

Correio do Povo: 
- "No ano passado, a senhora afirmou que a tendência era o julgamento demorar até um ano para ocorrer. Um ano depois, os apontados como responsáveis pelo crime ainda não foram sequer ouvidas pela Justiça. A senhora arriscaria dizer quanto tempo mais demorará o julgamento? Por que é tão demorado?"

Promotora Dinamárcia: 
- "Como não atuo mais no processo,abstenho-me da emissão de comentário a respeito do andamento."

Correio do Povo:
- "A senhora acompanhou todo o desenrolar da história. Desde a visita do menino ao Ministério Público, para tentar trocar de casa, o suposto desaparecimento e até o encontro do corpo em buraco no mato. Qual parte da história marcou mais?"

Promotora Dinamárcia: 
- "O que mais me marcou, durante a atuação que tive no caso, foi a frieza do pai e da madrasta de Bernardo, procurando apoio das autoridades e mobilizando terceiros, nas buscas pela criança - até então desaparecida - a qual já sabiam estar morta. Depois, foi marcante ter de trabalhar com informações sobre a vida intrafamiliar  da vítima somente reveladas, por testemunhas, depois da notícia da morte de Bernardo.

Correio do Povo:
- "Você ainda pensa no Bernardo? Do que Lembra? Arrepende-se de ter feito (ou não) alguma coisa durante todo o desenrolar da história (desde as supostas agressões cometidas até a consumação do assassinato?) Teria feito algo diferente?"

Promotora Dinamárcia:
- "Primeiramente, faz-se importante corrigir a pergunta, porque parte de uma premissa que não é verdadeira: nunca recebemos no Ministério Público, ao tempo de Bernardo entre nós, qualquer notícia de agressão praticada pelo pai, além da relatada violência negligencial, ou seja, a desconsideração, o abandono material e afetivo. Adiante, em resposta, digo que, em dezesseis anos de serviços prestados como Promotora de Justiça, com atuação direta, entre tantas atribuições, para a proteção de crianças e adolescentes, - "Bernardo foi a primeira criança que atendida e proposta medida judicial em seu favor, foi vítima de homicídio."

- "Recordo de tantos atendimentos à situações críticas de violência física intrafamiliar emq eu conseguimos salvar a criança (ou o adolescente) de seus algozes. E situações , essas, muitas vezes em que as crianças nada conseguiam verbalizar, por serem ainda bebês, e tinham sido queimadas, fraturadas, ou "vendidas a casais com recursos" e que foram encaminhados à adoção após batalha judicial com os pais (e com os compradores), por exemplo, e hoje são adolescentes saudáveis, vivendo em famílias que lhes dão o carinho e apoio necessário."

- "Jamais esquecerei Bernardo, menino de olhos tristes e expressão cansada, que esteve sentado em meu colo, relatando-me a vontade de ir morar com a "tia Ju"! Apesar da agilidade das providências adotadas pelo Ministério Público, todas registradas documentalmente (como a ouvida da avó, em Santa Maria, a nosso pedido e a recusa da tia Ju em recebê-lo sob guarda provisória, após contatada por servidor da Promotoria da Justiça, por minha determinação), Bernardo foi morto, de uma forma covarde, abjeta. 
- "Guardo a lembrança dele comigo, assim como a certeza de que o sistema não é imune a atos insanos. Aliás, não há, no mundo, sistema imune a isso."

Correio do Povo:
- "A senhora chegou a retornar a Três Passos desde que trocou de comarca? Mesmo se sim ou se não, por quê?"

Promotora Dinamárcia:
- "Profissionalmente, não fui mais a Três Passos, porque não houve esse imperativo. No mais, prefiro não c
omentar sobre minha vida pessoal."

Correio do Povo: 
-"Continua acompanhando o caso? Conversa com a promotora Sílvia ou limita-se a acompanhar pela imprensa?"

Promotora Dinamárcia: 
- "Como estou em atribuições em outra Comarca, sem mais responder pelo caso, prefiro não responder a essa pergunta."

Correio do Povo:
-"De que maneira a senhora acredita que a opinião pública tenha influenciado no desenrolar do caso? Na sua opinião, por que o caso repercutiu tanto?"

Promotora Dinamárcia:
- "O caso repercutiu tanto, na minha opinião, pela conjugação de três circunstância: primeiramente ao fato da comunidade local e regional estar mobilizada nas buscas por Bernardo e, após, ter sido "patrolada" com a brutal notícia de que o menino tinha sido morto pelos mesmos que, dissimuladamente, o procuravam. Então, essa mobilização para busca, transmutou-se num movimento para punição dos culpados, de enorme engajamento social; depois pelo fato de Bernardo ter pedido outra família, meses antes do crime, indo diretamente buscar ajuda no Fórum local."

- "Nesse ponto, o desconhecimento do trabalho legal feito em favor de Bernardo dos trâmites judiciais, especialmente do que prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente em casos tais (até então de violência negligencial) , contribuiu para uma pesada crítica ao sistema e seus operadores - acredito firmemente que as críticas devem contribuir para o aperfeiçoamento do sistema, especialmente para a relativização da prioridade à manutenção da criança com a família biológica [i]; finalmente, o fato de tudo ter se passado numa família de classe alta, com pai médico, madrasta enfermeira e uma partícipe, veja-se, uma assistente social." 

- "Realmente, nos dias da morte de Bernardo, outra criança, em cidade do interior do Estado, um bebê, com poucos meses de vida, foi morto com vinte facas, dentro de casa, por um parente. Não houve disso mais que uma ou outra nota nos informativos e nada nas redes sociais ..., eram todos, morto e assassino, pessoas pobres e de mínima instrução, onde tantos dizem ser (sic) "comum acontecer esse tipo de coisa". Lamentável, mas é assim que se ouve tantos dizerem."

- "Ora, se a família hoje, tem sua formação multifacetada reconhecida constitucionalmente, priorizando-se, o vínculo biológico deve ser mitigada, relativizada, para que se atenda ao melhor interesse da criança. Fui  coerente com esse meu entendimento, perante o Juizado da Infância e Juventude, para afastá-lo, provisoriamente, do pai e da madrasta, entregando-o a avó materna." 

OBSERVAÇÃO: Bernardo, meu amor, um dia você disse a sua babá que estava sentindo saudade e aí você chorou muito. Não sei se a tua garganta ardeu, a minha agora está ardendo... de amargura. E quase não consigo digitar, de tanto que as lágrimas embaçam a minha visão.  Também não sei se é saudade, isso que eu estou sentindo, afinal nunca nos conhecemos pessoalmente. É talvez uma raiva... dessa impotência... de ação, de conhecimento, de espaço e... da diferença... você me entende! Daí, só as palavras podem agir: mesmo estáticas na tela do meu computador elas gritam... e gritam... e gritam...JUSTIÇA PARA ODILAINE E BERNARDO UGLIONE BOLDRINI!

Nenhum comentário:

Postar um comentário