quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Um ano e meio de saudades de Bernardo Uglione Boldrini


UM ANO E MEIO DE SAUDADES... SEM BERNARDO 



No dia que completou um ano da morte de Bernardo em 04/04/2015, seus colegas do Colégio Ipiranga, saudosos e inconformados escreveram uma carta que foi lida às 11:50 hs, durante vigília, em frente à casa que ele morava. Veja a íntegra da carta:

Foto Caetanno Freitas / G1

“Há um ano, dia 04 de abril de 2014, a esta hora estávamos todos felizes, era sexta-feira e o final de semana estava se aproximando. 11h50 terminou a aula e todos nos despedimos como sempre. Não sabíamos que estávamos dando o último tchau a você, Bernardo. Que saiu tão apressado da sala de aula naquele dia, acompanhou a Rosani até o posto e pegou carona para casa. Na ocasião, estava feliz, disse que buscaria o aquário à tarde...

São 12 meses sem você, Bernardo. 12 – o mesmo número da sua idade, se não tivessem nos tirado você. Queremos lembrar cada mês de ausência, acendendo uma vela e lembrando do que vivemos nestes tantos anos de convivência.

O mês de abril foi marcado pela busca, esperança e depois pela dor, revolta e indignação. Choramos a sua perda sem entender direito o que estava acontecendo. Não tínhamos respostas para o que nos perguntavam.

No mês de maio, fez um mês sem você. Lembramos da data na Feira do Livro. Você que estaria lá todos os dias. Não para ler, é claro. Você não gostava de ler. Mas gostava de conversar com as pessoas, abraçar... Estar rodeado de amigos. Você que estava vendendo rifa do Leia Menino até um dia antes...

Em junho realizamos o Brechó, para o qual você estava se dedicando tanto, arrecadando roupas. Tinha ido até ao comércio pedir doações. Você sempre estava preocupado com os outros, em ajudar, ser útil. Assim também na sala de aula: adorava ser o ajudante do professor, adorava cuidar dos outros. Muitas vezes, se metia em confusão, pois nem sempre entendíamos suas intenções.

Julho, férias de inverno. Você teria passado muitos dias em nossas casas, como sempre. Jogaríamos no computador e muuuita conversa seria jogada fora na cama, antes de dormir... Às vezes, demorávamos a dormir conversando. Queríamos que você estivesse ontem, amanhã e sempre ao nosso lado, nos divertindo e lembrando as coisas boas da vida.

Em agosto os teus amigos se esmeraram para fazer bonito na gincana por você. Você que tanto gostava destas brincadeiras, muitas vezes tomando a frente com ideias e sugestões. Ficamos em segundo lugar, você seria um dos mais felizes.

Em setembro, lembramos seu aniversário. E depois de dois dias descobrimos, através de vídeos publicados pela imprensa, que o que você vivia em sua casa era surreal. Descobrimos que o pai, aquele que tem a missão de prover e cuidar, fez exatamente o contrário. Perdemos o chão. Ficamos mais abalados ainda. Nos perguntamos diversas vezes: “Por que você não nos contou?” Nunca teremos resposta. Você era um forte. Passou por tudo sozinho, sofria calado. Saía de casa, fechava o portão e estava em outro mundo, deixava para dentro do portão a vida sofrida de filho mal cuidado.

Em outubro já estávamos até com saudades do teu barulho, das tuas aporrinhações, das briguinhas sem motivos, das trapalhadas, inquietações, das vezes em que nos dedava, e falava demais durante as aulas. Como queríamos poder continuar dizendo: “Senta, Bernardo. Presta atenção na aula. Faz as atividades...”


Em novembro nos lembramos de você no Luau. Um ano antes, na despedida da turma, você falou  que no próximo iria estar com as profes novamente, mesmo a turma não podendo participar, pois o 6º ano não é mais do Turno da Tarde. Disse que daria um jeito, se esconderia, ajudaria a profe Soeli no bar... O Luau aconteceu e você não estava lá.

Dezembro nos marcou pelo plantio de árvores nativas em frente ao colégio. Projeto que a profe Cecilia apresentou para a turma e você foi um dos mais entusiasmados. Plantamos aquelas árvores para você.

Janeiro foi nosso mês de férias e nesse mês você sempre fazia suas visitas. Muitas vezes, esqueciam de vir buscá-lo e então brincávamos até tarde. Você adorava criar mundos e personagens novos, em sua casa virtual, em jogos no computador. Cansávamos de brincar... como era bom! Sua presença sempre era alegre, você nos alegrava. Nunca apresentava tristeza, pelo contrário, uma criança que amava a vida e a todos nós.

Fevereiro nos marcou pelo retorno às aulas. Você não estava sentado na primeira fila como sempre. Seu nome não foi chamado quando chamaram a nossa turma. Você não estava na lista de chamada. Um vazio permanecia em nosso coração.

Março nos trouxe a proximidade da data de hoje. Perguntas foram refeitas e novas apareceram. Dói ver aquele lugar vazio na sala de aula, dói saber que alguém, que tinha tantos sonhos lindos como os nossos, teve esses mesmos sonhos interrompidos de tal maneira. Sua presença ainda faz falta, e o que dói mais é que sabemos que mesmo estando em um lugar maravilhoso agora, você não estará entre nós. Mas com certeza, está sendo cuidado pelos anjos e por sua mãe Odi.

Que estas velas acesas iluminem o teu novo caminho e iluminem também o nosso, para que consigamos continuar nossas vidas com coragem e fé.

Um ano sem Bernardo... Um ano de saudades.”


Foto de Caetanno Freitas / G1

Disponível em:

JUSTIÇA PARA ODILAINE E BERNARDO UGLIONE BOLDRINI!

Um comentário:

  1. A coisa mais linda de todas as coisas que foi escrito para o Bernardo.
    Notamos a sinceridade nas palavras de seus amigos.
    Sentimos saudades

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