quarta-feira, 25 de março de 2015

Esse menino era seu filho: Bernardo Uglione Boldrini



ESSE MENINO ERA SEU FILHO, MAS EU QUERIA DE TODO CORAÇÃO QUE FOSSE MEU

Bernardo Uglione Boldrini / Arquivo pessoal.

Na seção "Opinião" do Jornal Zero Hora de 25/04/14, disponível em:<zh.clicrbs.com.br/noticias/noticia/2014/fabricio-carpinejar>, está publicada uma matéria bastante comovente que é quase uma indagação a Leandro Boldrini sobre o que ele permitiu que sucedesse ao seu filho Bernardo. Existe também no referido jornal, a resposta de Jader Marques, na época, advogado de Leandro, ao escritor sobre o comentário, mas como o advogado já foi destituído e deixou claro que mantém a mesma concepção de inocência do médico, não achei de relevância trancrevê-la. O texto do escritor Fabrício Carpinejar também está disponível no seu facebook, no seguinte endereço: <https://pt-br.facebook.com/carpinejar> 

ESSE MENINO ERA SEU FILHO.
 (Texto de Fabrício Carpinejar)

 "Não posso chamá-lo de caro ou prezado, mas apenas usar seu nome: Leandro. Educação e respeito  vão soar como cinismo".

"Tampouco posso chamá-lo pelo sobrenome para indicar formalidade. Perdeu o direito do sobrenome para sempre. Seu filho pequeno está enterrado em seu sobrenome para sempre. Ele carregava seu sobrenome, você não soube carregar coisa alguma dele".

"Tenho enfrentado vários pesadelos desde que ouvi a notícia de que seu menino de 11 anos fora morto pela madrasta".

"Que seu menino foi posto numa cova às margens de um rio em Frederico Westphalen (RS) e poderia ainda estar vivo. Coberto pela terra quando deveria ser coberto pelo edredon para não passar frio de noite".

"Seu filho foi enganado. Toda a vida enganado. Toda a vida humilhado. Na hora do seu fim, aceitou o passeio para longe de Três Passos, porque jurava que receberia uma televisão".

"Quando seu menino acordar dentro da noite, ele vai chamá-lo. Assim como toda criança chama seu pai quando tem medo do escuro. Vai chamá-lo e onde estará"?

"Ele acreditou que você era o herói dele. Estava exagerando para pedir que o salvasse, não entendeu o seu apelo"?

"Você nem pai foi. Nem homem foi. Você foi o que restou".

"Como médico, não acha Bernardo uma criança um pouco grande para fazer um aborto"?

"O que dirá para a irmãzinha dele? Que Bernardo está no céu? Que é uma estrela"?

"Perdeu também o direito de mentir. É você e sua memória sozinhos no silêncio. Só resta a memória para quem matou a consciência".

"Nunca encontrará perdão. Deixou Bernardo desamparado. Deixou Bernardo com as mesmas roupas curtas, o mesmo uniforme escolar surrado, desde que a sua mãe faleceu. Deixou seu filho mendigar atenção pela cidade. Pelo fórum".

"Não entendo o que leva um homem a anular sua família anterior por uma nova namorada. O sexo é mais importante do que a paternidade? A bajulação é mais importante do que a ternura? Queria estar disponível para festas? Cortar gastos"?

"Fingiu que Bernardo não existia pra não atrapalhar a ambição de sua mulher? Fingiu que Bernardo não havia nascido para atender à exclusividade de sua mulher"?

"Filho: não é escolha, é responsabilidade. Já casamento é escolha..."

"Se a mulher não gostava do seu filho, não deveria ter recusado o relacionamento"?

"Como seria simples dizer: "ou meu filho ou nada". É o que se fala no início do namoro".

"Para você, nada".

"Não é que você não tem mais nada, você não é mais nada. Abdicou de seu filho para ficar com alguém. Você não se contentou em abandonar sua família para criar uma segunda família. Você aniquilou sua família para criar uma segunda família".

"Obrigava Bernardo a esperar fora de casa até você chegar do trabalho, agora é você quem espera fora de casa".

"Obrigava Bernardo a lavar as mãos para brincar com a irmã. Pois tente agora lavar suas mãos para tocar no rosto dele".

"Tente todos os dias de sua paternidade. Sangue não sai com a culpa".

OBSERVAÇÃO: Esse escrito é uma volta ao passado de Bernardo Uglione Boldrini com toda sua carga de emoções fortes e doloridas. São palavras que calam fundo ao coração. Não há no que contestá-las, apenas proponho, com a licença do autor, um pequeno aparte:
Quando Bernardo chegou no céu, não existia a escuridão. Ele seguiu por um caminho todo iluminado e já não sentia nem dor, nem medo, nem saudade. No final desse caminho ele foi recebido por uma legião de anjos que lhe davam boas vindas, já com a promessa de um lugar tão, mas tão lindo, que nenhuma palavra ou sentimento humano seria capaz de descrever. E com um presente extra: viver ao lado de sua mãezinha para sempre".

 - "Tu já sentiu saudades de alguém? Se tu sentiu, sabe o que eu estou sentindo hoje..." - disse Bernardo e agarrado ao pescoço de sua ex-babá, chorou profundamente. E em meio aos seus soluços, pediu:
- "Posso te chamar de mãe"?

JUSTIÇA PARA ODILAINE E BERNARDO UGLIONE BOLDRINI!

Um comentário:

  1. Nossa, muito forte essas palavras e todas verdadeiras. Tô aos prantos!!!! Jesus, o que fez Bernardo pra merecer um fim tão triste??? Por quê tanta maldade??? Fico ei aqui lendo e relendo tudo sobre Bernardo. E é como nunca tivesse lido porque o sofrimento é o mesmo. Não dá pra acreditar em tamanha crueldade. Dói, dói muito. Falta entendimento para tudo isso.
    Durante um tempo fiz consulta psicológica porque meu sofrimento, devido ao que fizeram ao Bernardo, era tanto que precisei de ajuda profissional. É difícil absorver este absurdo sozinha.
    Peço a Deus que a Justiça seja feita por completo. Que todos pague pelo que fizeram a ti, ou que deixaram de fazer pra te salvar.
    Em breve fará 1 ano que Bernardo foi enterrado vivo. Espero que a Justiça esteja próxima também.
    Bê, fique com Deus. O Brasil está de olhos aberto. Justiça será feito pro você é sua mãe.

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