UMA VIDA FELIZ AO LADO DA FAMÍLIA PETRY
Bernardo numa excursão gastronômica à cozinha da Tia Ju / Arquivo pessoal
Disponível em: <www.zh.clicrbs.com.br>. Com a Família Petry, Bernardo teve uma vida feliz. Matéria de 27/09/2014. Acesso em 03/07/2015.
Juçara Petry:
- "Bê, como tu não me convidou para a Primeira Comunhão"?
Bernardo:
- "Mas eu não vou fazer, tia".
Juçara Petry:
- "Mas como, tu rodou então"?
Bernardo:
- "Não, eu passei, mas o pai não vai estar aí, tem que levar camiseta branca e eu não tenho. E meus coleguinhas vão fazer festa e eu não tenho nada".
Juçara Petry:
- "Não seja por isso, tu sabe que lá em casa nós damos coice na moita e sai um monte de gente".
Bernardo:
- "Sério, tu faz uma festa para a minha Primeira Comunhão"?
E assim, em novembro de 2013, ao lado da Família Petry e mais cem convidados, Bernardo foi feliz comemorando sua Primeira Eucaristia, com muito churrasco, presentes e fotos. Esse acontecimento foi um dos muitos que vieram á tona após a morte do menino, vítima do descaso, da maldade e da ganância de pai e madrasta e agora acusados, presos e aguardando julgamento pela morte do menino.
Era com a Família Petry que Bernado escolheu morar, ao ser perguntado pela Promotora Dinamárcia, depois de ter caminhado sozinho, da loja da Tia Ju até o Fórum local de Três passos para reclamar da sua sofrida convivência com pai e madrasta, em janeiro de 2014. Com essa família, a vida normal de toda criança lhe era permitida: a companhia de pais e irmãos, os trabalhos escolares sendo acompanhados por eles, as aventuras gastronômicas na cozinha, os mergulhos na piscina da casa.
A humilhação de não poder entrar na sua própria casa quando desejasse foi compensada com uma chave e um senha, escolhida por Bernardo para ter acesso à a residência dos Petry.
Juçara Petry:
- "Ele achava o máximo apertar os botões e entrar, porque na casa dele, ele não tinha como entrar".
Avisada pela Igreja que Bernardo não faria a Primeira Comunhão, Juçara Petry tratou logo de tomar as providências necessárias para organizar a festa de Bernardo. O menino ganhou a camisa branca, dois pares de tênis ( um amarelo e outro preto). Na missa da Primeira Eucaristia, ele usou um pé de cada tênis como forma de agradecimento aos amigos. Desde o falecimento da mãe Odilaine Uglione, em 2010, era essa a vida do menino, na luta pela subsistência.
Devido à clara negligência de pai e madrasta, sempre que o menino precisava, Juçara Família Petry tomava a frente:
Bernardo estava mal em matemática? Era para a Tia Ju que a Escola ligava.
Bernardo estava sem lanche? Pega, anota que depois a Tia Ju paga.
Bernardo estava sem uniforme? Não se preocupe, a Tia Ju faz na sua confecção.
Bernardo tem atividade ou apresentação na escola? Lá ia Tia Ju. Se ela não pudesse ia Tayná, ia Tio Carlinhos, ia Tia Rea. Desemparado é que ele não ia ficar.
Dia das mães de 2013 na Escola, onde Tia Rea (irmã de Juçara) assumiu o papel de mãe até a Tia Ju chegar.
Juçara Petry:
- "Os conselheiros tutelares disseram que o Bê iria para uma casa de passagem (abrigo para crianças). Nós dissemos que se a Justiça tirasse ele do pai e ele não pudesse ficar com os parentes, nós íamos atrás.
O amor incondicional de Bernardo por essa família está traduzido nas dezenas de fotos: ajudando por a mesa do almoço, fazendo pão (ele gostava de comer a massa crua), imitando o Tio Carlinhos ao cortar a barba. Até cortar suas unhas era a Tia Ju. Um de seus últimos trabalhos escolares ainda permanece no computador da Família Petry.
Em um dos passeios turísticos oferecidos pela Escola às ruínas de São Miguel, a madrasta proibiu que Bernardo levasse uma câmera fotográfica, mesmo o menino precisando das imagens para realizar um trabalho escolar, O resultado foi a Tia Ju entrar em cena mais uma vez e através da internet reconstituir com o menino o passeio passo a passo.
Juçara Petry mostra um bloco de anotações com os dizeres: "Bê, tem iogurte na geladeira. Leva esta chave". Muitas vezes, Bernardo quis dormir em sua casa. De manhã, como o menino ainda permanecesse dormindo e ela precisasse sair para o trabalho, sempre deixava um recadinho para ele.
Juçara Petry:
- "O que me deixa aliviada é que quando ele estava conosco, ele estava bem, não estava passando aquele martírio. Mas, meu Deus, quantas vezes tirei ele daqui e levei para lá"?
Juçara ainda hoje é a encarregada da manutenção das flores que as pessoas diariamente depositam na porta da casa onde Bernardo morou. Saudosa, Juçara Petry reflete sobre a situação de crianças expostas ao mesmo risco.
Juçara Petry:
- "É triste a gente ver e ouvir uma situação dessa que ele passou e não falou anda para nós. Deve ter outras crianças com medo, caladas, acuadas. E o que a gente pode fazer para isso não acontecer com outras crianças, de todas as classes"?
OBSERVAÇÃO: Acho que consigo ter um pouco da noção do que a Tia Ju está passando. Vê-se um misto de desconsolo e impotência quando ela fala sobre o assunto. Vemos na imprensa, o empenho da Família Petry para conservar a memória de Bernardo e também a sua luta por Justiça. Bernardo foi uma criança muito amada e agraciada por Deus, tendo colocado em seu caminho anjos auxiliadores, de modo que ele pudesse suportar todo o sofrimento pelo qual passou. Até aquele dia 04/04/2014, o que movia Bernardo era a sua esperança em uma família feliz e isso se deve grandemente à Família Petry. Como consolo, devemos nos lembrar que mártires existiram e existirão, mas o nosso Bê se encontra no colo de amor inconcebível do Nosso Papai do Céu.
Por Bernardo Uglione Boldrini: muitíssimo obrigado, Família Petry, Deus lhes pague!
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Galeria de fotos de Bernardo com a Família Petry.
Bernardo feliz brincando na piscina da casa da Família Petry.
Um pé de cada cor como forma da agradecimento pelo presente.
Com a mana Tayná Petry, em apresentação na Escola.
Com a Tia Ju, sua mãe do coração.
Festa de comemoração de 11 anos em 06/09/2013, na residência dos Petry.
Ajudando a colocar a mesa do almoço na casa da Tia Ju.
Brincando no computador com os sobrinhos da Tia Ju.
Ajudando o Tio Carlinhos a espichar a massa do pão no cilindro.
Em apresentação na Escola com a guitarra emprestada pela secretária, pois o pai tinha mandado ele se virar com um cabo de vassoura, mesmo possuindo uma guitarra.
Na festa de aniversário da Vó Felisberta (in memoriam), mãe da Tia Ju. em janeiro de 2104.
Bê,
ResponderExcluirFelizes são os que puderam desfrutar da sua companhia e receber um abraço seu.