OS MENINOS DE LUZ, CEIFADOS PELA BÁRBARIE
(Escrevia Luis Nassif, em 18/04/2014)
Fotos de arquivo pessoal
Os
mais espiritualizados diriam que a humanidade é composta pela massa informe dos
que vieram de passagem pela vida, buscaram promoção pessoal ou não, acomodaram-se
na carreira profissional ou não, mas fecharam-se em seu mundinho murado, não se
expondo aos desafios da vida nem à luz dos sentimentos maiores, incapazes de
celebrar a beleza ou se indignar com os absurdos da vida.
Sobem
quando encontram espaço; resignam-se, quando expostos a obstáculos.
Mas
há as crianças de luz, aquelas que nasceram com a garra dos predestinados, com
a indignação dos que jamais se curvariam às vicissitudes da vida. E aquelas
que, dotadas da força interna dos iluminados, foram ceifadas pela força bruta
dos bárbaros.
ALEX MORAIS SOEIRO
Com
8 anos de idade, morador da Vila Kennedy, na zona Oeste do Rio, o menino Alex
Moraes Soeiro era um deles. Morava com a mãe em Mossoró, Rio Grande do Norte.
Ameaçada de perder a guarda do filho, por não levá-lo à escola, despachou-o
para morar com o pai no Rio de Janeiro.
Ex-presidiário,
traficante, desempregado, o bárbaro acolheu a luz. Alex foi matriculado na
Escola Municipal Coronel José Gomes Moreira. No primeiro bimestre tirou nota
88, no segundo, nota 100 e no terceiro, nota 90.
Segundo
os colegas, era um menino afetuoso, que se dava bem com todos. Sensível,
gostava de dança do ventre e de lavar louças, de forró e de brincar de
carrinhos. E tinha uma força interna de tal ordem que escondia dos colegas os
hematomas resultantes dos frequentes espancamentos a que era submetido pelo pai:
“Para ensiná-lo a andar como homem”.
De
frente com a besta, o menino não cedia, não chorava, não gritava. Foi assim
quando recusou-se a cortar o cabelo e foi espancado e não cedeu e continuou
sendo espancado até que a pancadaria feroz dilacerou o fígado, provocando uma
hemorragia interna.
Com
8 anos morreu, sem se curvar à bestialidade. No laudo final, os legistas
encontraram escoriações nos joelhos, cotovelos, ouvido esquerdo, no tórax, na
região cervical, equimoses no rosto, no tórax, no supercílio direito, no punho
esquerdo, no braço e antebraços.
Se
a besta não tivesse ceifado sua vida, seria um dos futuros meninos de luz a
iluminar a construção de um país desigual, talvez um grande líder político ou
comunitário, talvez um empreendedor destemido, talvez um artista consagrado.
BERNARDO UGLIONE BOLDRINI
Bernardo
Boldrini, de 11 anos, morava no município de Três Passos, perto de Santa Maria,
Rio Grande do Sul. Órfão da mãe, que supostamente se suicidou logo após
se separar do marido, foi morar com o pai, médico cirurgião bem sucedido e a
nova esposa.
Pelos
amigos, era considerado dócil, obediente e carente, especialmente devido ao
abandono a que foi relegado pelo pai. Muitas vezes refugiava-se em casa de
amigos, sem jamais criticar o pai ou mencionar os problemas em casa.
Em
um dia em que o pai prometeu mais atenção, comentou com os colegas sua
felicidade, por poder brincar com a “mana”, a irmã de um ano e três meses do
novo casamento.
Com
11 anos, procurou o Conselho Tutelar da cidade para denunciar os maus tratos e
o abandono pelo pai e propor ser criado pela avó.
No
último dia 4 foi morto com uma injeção letal, aplicada provavelmente pelo
pai e pela madrasta.
Aos
que desanimam com os problemas da vida real, que se abatem com os trancos do
destino, iluminem-se com a luz desses meninos que não cederam.
Disponível em:
http://jornalggn.com.br/noticia/os-meninos-de-luz-ceifados-pela-barbarie. Acesso em 30/07/2016.
JUSTIÇA IMPARCIAL E TOTAL PARA TODAS AS CRIANÇAS, VÍTIMAS DE VIOLÊNCIAS EM TODOS OS ASPECTOS, COMETIDAS POR AQUELES QUE MAIS RESPONSABILIDADE DEVERIAM TER SOBRE ELAS!
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