UM ANO E MEIO DE SAUDADES... SEM BERNARDO
No dia que completou um ano da morte de Bernardo em 04/04/2015, seus colegas do Colégio Ipiranga, saudosos e inconformados escreveram uma carta que foi lida às 11:50 hs, durante vigília, em frente à casa que ele morava. Veja a íntegra da carta:
Foto Caetanno Freitas / G1
“Há um ano, dia 04 de abril de
2014, a esta hora estávamos todos felizes, era sexta-feira e o final de semana
estava se aproximando. 11h50 terminou a aula e todos nos despedimos como
sempre. Não sabíamos que estávamos dando o último tchau a você, Bernardo. Que
saiu tão apressado da sala de aula naquele dia, acompanhou a Rosani até o posto
e pegou carona para casa. Na ocasião, estava feliz, disse que buscaria o
aquário à tarde...
São 12 meses sem você, Bernardo. 12 – o mesmo número da sua idade, se não
tivessem nos tirado você. Queremos lembrar cada mês de ausência, acendendo uma
vela e lembrando do que vivemos nestes tantos anos de convivência.
O mês de abril foi marcado pela
busca, esperança e depois pela dor, revolta e indignação. Choramos a sua perda
sem entender direito o que estava acontecendo. Não tínhamos respostas para o
que nos perguntavam.
No mês de maio, fez um mês sem você. Lembramos da data na Feira do Livro.
Você que estaria lá todos os dias. Não para ler, é claro. Você não gostava de
ler. Mas gostava de conversar com as pessoas, abraçar... Estar rodeado de
amigos. Você que estava vendendo rifa do Leia Menino até um dia antes...
Em junho realizamos o Brechó, para o qual você estava se dedicando tanto,
arrecadando roupas. Tinha ido até ao comércio pedir doações. Você sempre estava
preocupado com os outros, em ajudar, ser útil. Assim também na sala de aula:
adorava ser o ajudante do professor, adorava cuidar dos outros. Muitas vezes,
se metia em confusão, pois nem sempre entendíamos suas intenções.
Julho, férias de inverno. Você teria passado muitos dias em nossas casas,
como sempre. Jogaríamos no computador e muuuita conversa seria jogada fora na
cama, antes de dormir... Às vezes, demorávamos a dormir conversando. Queríamos
que você estivesse ontem, amanhã e sempre ao nosso lado, nos divertindo e
lembrando as coisas boas da vida.
Em agosto os teus amigos se esmeraram para fazer bonito na gincana por
você. Você que tanto gostava destas brincadeiras, muitas vezes tomando a frente
com ideias e sugestões. Ficamos em segundo lugar, você seria um dos mais
felizes.
Em setembro, lembramos seu aniversário. E depois de dois dias descobrimos,
através de vídeos publicados pela imprensa, que o que você vivia em sua casa
era surreal. Descobrimos que o pai, aquele que tem a missão de prover e cuidar,
fez exatamente o contrário. Perdemos o chão. Ficamos mais abalados ainda. Nos
perguntamos diversas vezes: “Por que você não nos contou?” Nunca teremos
resposta. Você era um forte. Passou por tudo sozinho, sofria calado. Saía de
casa, fechava o portão e estava em outro mundo, deixava para dentro do portão a
vida sofrida de filho mal cuidado.
Em outubro já estávamos até com saudades do teu barulho, das tuas
aporrinhações, das briguinhas sem motivos, das trapalhadas, inquietações, das
vezes em que nos dedava, e falava demais durante as aulas. Como queríamos poder
continuar dizendo: “Senta, Bernardo. Presta atenção na aula. Faz as
atividades...”
Em novembro nos lembramos de você
no Luau. Um ano antes, na despedida da turma, você falou que no próximo
iria estar com as profes novamente, mesmo a turma não podendo participar, pois
o 6º ano não é mais do Turno da Tarde. Disse que daria um jeito, se esconderia,
ajudaria a profe Soeli no bar... O Luau aconteceu e você não estava lá.
Dezembro nos marcou pelo plantio de árvores nativas em frente ao colégio.
Projeto que a profe Cecilia apresentou para a turma e você foi um dos mais
entusiasmados. Plantamos aquelas árvores para você.
Janeiro foi nosso mês de férias e nesse mês você sempre fazia suas visitas.
Muitas vezes, esqueciam de vir buscá-lo e então brincávamos até tarde. Você
adorava criar mundos e personagens novos, em sua casa virtual, em jogos no
computador. Cansávamos de brincar... como era bom! Sua presença sempre era
alegre, você nos alegrava. Nunca apresentava tristeza, pelo contrário, uma
criança que amava a vida e a todos nós.
Fevereiro nos marcou pelo retorno às aulas. Você não estava sentado na
primeira fila como sempre. Seu nome não foi chamado quando chamaram a nossa turma.
Você não estava na lista de chamada. Um vazio permanecia em nosso coração.
Março nos trouxe a proximidade da data de hoje. Perguntas foram refeitas e
novas apareceram. Dói ver aquele lugar vazio na sala de aula, dói saber que
alguém, que tinha tantos sonhos lindos como os nossos, teve esses mesmos sonhos
interrompidos de tal maneira. Sua presença ainda faz falta, e o que dói mais é
que sabemos que mesmo estando em um lugar maravilhoso agora, você não estará
entre nós. Mas com certeza, está sendo cuidado pelos anjos e por sua mãe Odi.
Que estas velas acesas iluminem o teu novo caminho e iluminem também o
nosso, para que consigamos continuar nossas vidas com coragem e fé.
Um ano sem Bernardo... Um ano de saudades.”
Disponível em:
http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/caso-bernardo-boldrini/noticia/2015/04/carta-escrita-por-colegas-e-amigos-lembra-um-ano-sem-bernardo.html. Acesso em 14/10/2015.
JUSTIÇA PARA ODILAINE E BERNARDO UGLIONE BOLDRINI!
A coisa mais linda de todas as coisas que foi escrito para o Bernardo.
ResponderExcluirNotamos a sinceridade nas palavras de seus amigos.
Sentimos saudades