EDELVÂNIA WIRGANOVICZ DIZ TER SOFRIDO COAÇÃO NO INTERROGATÓRIO DE 14/04/2014, QUE MORTE DO MENINO BERNARDO NÃO FOI PREMEDITADA E FAZ SÉRIAS ACUSAÇÕES
Foto de Jefferson Botega / Agência RBS.
Edelvânia Wirganovicz alega que no depoimento que prestou à Polícia Civil em 14/04/2014, quando foi presa, dizendo que estava auxiliando a Justiça, era tudo uma farsa. Entre as muitas verdades ocultas nas entrelinhas, as que foram ditas, incluindo as palavras que a Delegada Cristiane ainda se seu ao trabalho de colocar em sua boca, tudo isso agora é motivo de denúncia.
Ao adentrar a sala da direção da Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, na Região Metropolitana de Porto Alegre, Edelvânia quis saber se estaria algemada durante a entrevista que concederia ao Jornal Zero Hora. De acordo com o referido Jornal, Edelvânia falou por quase duas horas. Trajava um casaco roxo de gola alta, calças jeans e sapatilhas, em um ambiente acima de 25º. Exibindo 10 quilos a mais em razão de depressão, cabelo com raízes brancas e um rosto inchado, ela pediu que a família não a visitasse, sobretudo em razão dos 450 quilômetros que a separam de Frederico Westphalen, onde morava.
Pouco comunica-se com o ambiente externo e ocasionalmente escreve para uma irmã. No depoimento à Policia Civil em abril de 2014, Edelvânia afirmava que Graciele Ugulini a procurara três meses antes do crime, a fim de lhe pedir ajuda para dar um sumiço em Bernardo Uglione Boldrini, seu enteado de apenas 11 anos de idade, que enfrentava problemas econômicos e iria receber muito dinheiro. Contou ainda que Bernardo depois de dopado, havia recebido da madrasta, uma injeção letal que pôs fim a sua vida.
Na quarta-feira, 11/11/2015, negou tudo o que havia dito em depoimento e conforme relatou à repórter Débora Ely, do Jornal Zero Hora, em perguntas que foram respondidas com os olhos arregalados, apertando os lábios com os dentes por várias vezes, não tendo demonstrado um pingo de remorso e nem chorado em momento algum.
Segue abaixo transcrição completa do depoimento de Edelvânia Wirganovicz em 11/11/2015:
Jornal Zero Hora:
- “A senhora está presa
na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba desde 30 de abril de 2014, acusada
de participar da morte do menino Bernardo. Como é a sua rotina"?
Edelvânia Wirganovicz:
- “Estou no isolamento, em uma cela. Não
tenho uma tomada para ligar uma televisão. Estou isolada em um quartinho
fechado. Passo a maior parte do tempo ali. Não gosto de ir ao pátio porque é a
mesma coisa do que estar na cela. É pequeno também. Leio uns livros, fico
deitada. Como e deito. Essa é a minha rotina. Não vou muito no sol”.
Zero Hora:
- “Pode descrever como é
a sua cela aqui na penitenciária”?
Edelvânia:
- “A minha cela é um quadrado. Tem a
cama, a pia, um balcãozinho para colocar alguma coisa em cima, um chuveiro do
ladinho, o banheiro. É bem pequeno o ambiente. É um lugar bem difícil de
conviver. Todas as presas que vêm pagar castigo, no isolamento, ficam se
arrastando, não aguentam ficar 10 dias. Elas reclamam muito. E eu digo que
estou assim há um ano e seis meses. Estou debilitada, mas estou aqui”.
Zero Hora:
- “Sabe por que está em
uma cela isolada”?
Edelvânia:
- “Sim”.
Zero
Hora:
- “Por quê”?
Edelvânia:
- “Porque, no momento, não posso
conviver com outras presas, por causa da situação em que me encontro hoje”.
Zero Hora:
- “A madrasta do menino
Bernardo, Graciele Ugulini, está presa nessa mesma penitenciária. Vocês já se
encontraram”?
Edelvânia:
- “Nos encontramos. Já nos
encontramos. Ela estava indo e eu vindo”.
Zero Hora:
- “Conversaram”?
Edelvânia:
- “Não”.
Zero Hora:
- “Qual foi o seu
sentimento ao ver a Graciele”?
Edelvânia:
- “Eu sinto pena dela”.
Zero Hora:
- “Por quê”?
Edelvânia:
- “Porque ela vai ter de pagar pelo que
fez, né”?
Foto de Jefferson Botega / Agência RBS
Zero Hora:
- “Não sente raiva dela”?
Edelvânia:
- “Em algum momento, já senti. Mas,
depois, pensei nela, na família. Quando eu rezo pela minha família, eu rezo
pela família dela também. Que Deus dê força”.
Zero Hora:
- “A senhora reza todos
os dias”?
Edelvânia:
- “Bastante. Eu pego a Bíblia,
rezo, agradeço a Deus pela saúde. Levanto de manhã cedo, vou para a janela,
tiro o pano e agradeço a Deus por mais um dia, dou bom dia para Deus. Me
ajoelho, rezo, peço saúde para toda a minha família, para a minha mãe. Que ela
tenha muita saúde que logo estarei lá tomando chimarrão. E com o Evandro (Wirganovicz,
irmão de Edelvânia) também”.
Zero Hora:
- “O que a senhora vê da
janela da cela”?
Edelvânia:
- “Vejo uma parede. E logo após é a
creche das mães que têm as crianças. Até tem uma criança que chora muito. Fico
muito angustiada. Digo: "Vão ver o que essa criança tem!". Ela chora,
chora. É pequena, né? Me deixa mal ver, escutar essas crianças chorarem”.
Zero Hora:
- “Neste presídio há muitas mães. Mulheres que cometem crimes com
crianças costumam enfrentar represálias das demais apenadas. A senhora já
sofreu alguma violência, física ou verbal, de outra presa”?
Edelvânia:
- “Sim. Tem umas (presas) que
saem das galerias para pagar castigo que me enchem de "coisa". Meu
Deus do céu. Eu digo: "Vocês têm razão, podem falar". Tem outras que
vêm para a cela do lado e ajudam muito. Uma veio da galeria, tinha me visto, e
disse que jamais imaginou que eu iria alcançar um rolo de papel higiênico para
ela. Porque ela estava com raiva, né? Daí a gente foi conversando e ela tirou
aquilo que ela tinha de mim. Aquela pessoa que todo mundo condena sem conhecer.
Sem ter escutado”.
Zero Hora:
- “Seu advogado pediu à
Justiça que a senhora seja julgada sozinha no processo sobre a
morte de Bernardo porque,
‘haveria elementos para conseguir a absolvição’. Que elementos são esses”?
Edelvânia:
- “Inicialmente, eu gostaria de pedir
perdão à avó do Bernardo e aos meus familiares. Eu errei. Errei muito naquele
dia, em não ter ido na delegacia quando o Bernardo passou mal dentro do meu
carro e veio a óbito. O Evandro não tem nenhum
envolvimento na morte do Bernardo. Quem acusou o Evandro de ter feito a
cova, gostaria que me dissesse que dia foi, que horas, a cor da roupa. Eu quero
provas de que viram ele fazendo a cova. Porque quem fez a cova fui eu. Só eu
que fiz. Estou disposta a ir lá e fazer outra cova, até mais funda do que
aquela que eu fiz”.
Zero Hora:
- “A senhora falou,
agora, que o Bernardo morreu dentro do seu carro depois de tomar comprimidos
administrados pela Graciele. No depoimento à Polícia Civil, em 14 de abril, 10
dias depois do homicídio, a senhora falou em uma injeção letal. O que matou, de
fato, o Bernardo”?
Edelvânia:
- “O que matou ele, segundo a Graciele,
foram os comprimidos que ela deu para ele tomar”.
Zero Hora:
- “Mas a senhora falou à
polícia que a Graciele fez uma aplicação na veia do menino e, inclusive, citou
que saiu um "pouquinho de sangue" e que, a partir daí, ele foi
apagando”.
Edelvânia:
- “Não. Não foi bem isso”.
Zero Hora:
- “O que aconteceu,
então, naquele 4 de abril de 2014”?
Edelvânia:
- “Estava trabalhando só de manhã. A
Graciele disse, na hora do almoço, que iria a Frederico (Westphalen),
que tinha uma promoção de televisão e ela iria buscar. Acaba que o Bernardo vem
junto com ela. Ela disse que deu medicamento para ele no caminho para ele não ter
ânsia de vômito. Eu ia ficar com o Bernardo na praça. Quando ela morou comigo,
um tempo atrás, ela tinha um relacionamento com um cara. Ela ia se encontrar
com esse cara. Chegando na praça, na hora de descer comigo, o Bernardo disse
que não. A Graciele disse: ‘Desce que a Tia Edi vai ali na praça’. Deu uma
crise nele. A Graciele já estava nervosa. E ela chegou atrasada em Frederico
para o encontro que iria.
E eu ficaria na praça com o Bernardo. Mas o
Bernardo não quis, surtou, não quis descer do carro. Daí, ela pegou um monte de
comprimidos, deu para o Bernardo tomar e disse para darmos mais uma volta para
ele se acalmar. Fomos dar mais uma volta para depois descermos na praça e ele
passou mal dentro do meu carro. Começou a passar mal e desmaiou. Eu disse para
a Graciele que o Bernardo não estava bem. Chacoalhei ele. Disse para levarmos
ele no hospital para fazer uma lavagem, porque ela tinha dado muitos remédios
para o guri. Ela disse que não. Que não adiantava levar no hospital. Eu disse,
então: ‘Graciele, você acabou de matar o Bernardo. Eu vou ir à polícia’. Ela
disse: ‘Não, tu não vai na polícia. Tu vai arranjar um jeito de me ajudar a
consumir com o corpo desse menino’.
Ela me ameaçou, ameaçou a minha família, que
eu tinha que ajudar a dar um sumiço no corpo. Fiquei desesperada com tudo
aquilo. E ela ameaçando que tinha dinheiro. Acabamos saindo da cidade e
chegamos na beira do rio. Eu desci, peguei as ferramentas que estavam dentro do
meu carro para levar para a minha mãe, entrei mato adentro e fui achar um lugar
que fosse macio para cavar essa cova. A Graciele ficou pra lá e pra cá e não me
ajudou. Fui eu quem fez a cova. Somente eu. Eu saí dali. E ela ficou. Eu fui me
lavar na sanga. Eu estava mal”.
Zero Hora:
- “Por que a senhora
mesma não tomou a atitude de procurar um hospital ou a polícia”?
Edelvânia:
- “Mas eu pedi. Disse pra ela: ‘Vamos no
hospital fazer uma lavagem que ele está intoxicado de remédio’. Ela, como
enfermeira, disse que não adiantava. Ela examinou ele e disse que não
adiantava. Então, ela me disse que não tinha mais o que fazer. Eu disse que
iria na polícia porque ela tinha acabado de matar o Bernardo com o monte de
comprimido que tinha dado pra ele. Ela disse: ‘E você vai me ajudar’. Ameaçou a
minha família de morte, me ameaçou, que tinha dinheiro”.
Zero hora:
- “Quais eram os
medicamentos”?
Edelvânia:
- “Midazolam, eu acho, que ela
deu para o guri”.
Zero Hora:
- “No depoimento à
polícia a senhora disse que a Graciele a havia procurado dois ou três meses
antes do crime já com segundas intenções. Que pediu auxílio e que ela já tinha
tudo planejado para, nas suas palavras, ‘consumir com o guri’. Não é o que diz
agora. Então, mentiu em depoimento”?
Edelvânia:
- “Eu trabalhava em uma farmácia que
atendia a 26 municípios, era responsável pelos medicamentos. A polícia começou
a investigar para cima de mim. Fiquei nervosa, preocupada, e comecei a tomar os
remédios que tinha lá. Estava dopada, estava chapada de tanto remédio naquela
última semana. Daí, me levaram na delegacia e a delegada (quem colheu o
depoimento foi a delegada Cristiane de Moura e Silva) me colocou sentada
numa cadeira. E eu já pedi para ela que queria a presença de um advogado.
E eles tiraram meu direito da presença de um
advogado (
no vídeo do depoimento,
policiais repetem duas vezes a Edelvânia o direito constitucional de ficar
calada e só falar em juízo). Elas me
coagiram a falar tudo aquilo. A delegada me disse: "Edelvânia, faz do
jeito que nós mandarmos tu fazer que tu não vai pegar cadeia nenhuma".
Confiei nelas. E falei. Eu estava mal, estava chapada, estava drogada de
remédio. Quando me dei conta, elas estavam montando o processo para me
incriminar. Estou presa hoje há mais de um ano por causa da Graciele e da
delegada. A delegada me mentiu. Hoje eu sei por que elas fizeram isso comigo”.
Zero hora:
- “Por que elas fizeram
isso com a senhora”?
Edelvânia:
- “A delegada
Caroline (Bamberg) tinha
feito um acordo com o médico. Ela ganhou um alto valor em dinheiro para
arquivar o processo. A Graciele me contou que deram para a delegada um alto
valor em dinheiro, o apartamento, para ela arquivar o inquérito da morte da mãe
do Bernardo”.
Zero Hora:
- “Quando a Graciele lhe
contou isso?
Edelvânia:
- “Numa ida a Três Passos. No dia da audiência. A Graciele me contou que o
Leandro tinha dado um valor alto para a delegada não reabrir o caso”.
Zero Hora:
- “Tem prova dessa
acusação”?
Edelvânia:
- “Sim, a Graciele me falou. Ela me
contou que eles tinham dado um valor alto para a delegada não reabrir o
inquérito. E foi o que ela fez. Ela não abriu”.
Zero Hora:
- “E o valor de 6 mil que disse à polícia que Graciele havia transferido e que
a senhora usara para pagar uma parcela do apartamento”?
Edelvânia:
- “A Graciele não me passou dinheiro
nenhum. O dinheiro que eu estava pagando as prestações... primeiro minha mãe
fez um empréstimo em nome dela e me deu a primeira parcela do apartamento. A
segunda parcela que dei foi do meu trabalho, no final do mês”.
Zero Hora:
- “O que a Graciele falou
sobre o Bernardo”?
Edelvânia:
- “Falou que era um guri difícil de
lidar, revoltado, que tomava muito remédio, remédio controlado”.
Zero Hora:
- “Em algum momento ela
mencionou que queria se livrar dele”?
Edelvânia:
- “Para mim, não. Ela só disse que ele
era um guri muito agitado, que tinha medo que ele chegasse perto da Maria
(Maria Valentina, filha de Graciele e Leandro), que machucasse a Maria”.
Zero Hora:
- “A senhora se arrepende”?
Edelvânia:
- “Muito. Deus o livre”.
Zero Hora:
- “Do que se arrepende”?
Edelvânia:
- “Eu me arrependo de ter acontecido
aquele acidente no meu carro, comigo junto, porque eu jamais faria mal a uma
criança. Eu jamais faria mal a uma criança. Jamais. Jamais faria mal a uma
criança”.
Zero Hora:
- “Como a sua prisão, a
prisão do Evandro e a repercussão do caso mudaram a rotina da sua família”?
Edelvânia:
- “Eu destruí a minha família. Eu, hoje,
me sinto assim, ó... acabei com a minha vida. Perdi a minha família, estou há
mais de um ano presa aqui. Eu botei minha vida fora. Acabei comigo mesma. É
muito difícil”.
Foto de Jefferson Botega / Agência RBS
Zero Hora:
- “A Justiça de Três
Passos decidiu que a senhora, o Evandro, o Leandro e a Graciele vão a júri
popular. O que gostaria
de dizer às pessoas que irão decidir o seu futuro”?
Edelvânia:
- “Eu tenho mais coisas pra falar, mas
eu só vou falar no dia do júri... por medo”.
Zero Hora:
- “Que coisas são essas”?
Edelvânia:
- “Coisas que a Graciele me contou
sobre a morte da mãe do Bernardo”.
Zero Hora:
- “Como imagina seu
futuro daqui para a frente”?
Edelvânia:
- “Não sei... não sei. Hoje estou presa.
Eu não sei o que vai acontecer. Não sei”.
Zero Hora:
- “Quando sair da prisão,
qual será a primeira coisa que irá fazer”?
Edelvânia:
“Ver minha mãe. Ver a minha mãe”.
CONTRAPONTOS
O que diz Vanderlei Pompeo de Mattos, advogado de
Graciele Ugulini.
A defesa afirma que tem como versão única o depoimento de
Graciele Ugulini à Polícia Civil, no
qual a madrasta confirma que o menino morreu acidentalmente em razão do excesso de medicamentos administrados
por ela. O advogado também diz que desconhece qualquer acusação sobre Graciele ter ameaçado Edelvânia ou sobre o
suposto pagamento de dinheiro à delegada
Caroline Bamberg para que o inquérito sobre a morte da mãe de Bernardo, Odilaine Uglione, fosse arquivado.
O que diz Ezequiel Vetoretti, advogado de Leandro
Boldrini.
Informa que desconhece o teor da versão apresentada por
Edelvânia e que mantém o princípio de só se manifestar nos autos do processo.
O que diz a delegada Caroline Bamberg, em nome da Polícia
Civil.
Diz que foram garantidos, em depoimento, os direitos
constitucionais, que foi oportunizado um defensor e Edelvânia rejeitou. Nega qualquer hipótese de ter coagido
Edelvânia ou que tenha recebido
dinheiro de Leandro ou Graciele.
Disponível em:
OBSERVAÇÃO: um misto de descaramento, enganações e mentiras, referindo-se ao caso da morte do menino Bernardo. O que Edelvânia Wirganovicz pretende com isso, já que não consegue enganar mais ninguém?