quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Assim como Bernardo Uglione Boldrini e Ellie, as histórias se repetem


NA INGLATERRA, APÓS REAVER GUARDA DA FILHA, PAI A MATOU COM GOLPES NA CABEÇA


 Foto: Met Police

Transcrição: BBC Brasil 

Um caso envolvendo o assassinato brutal de uma menina de seis anos pelo próprio pai chegou ao fim nesta terça-feira (21/06/2016) na Inglaterra, após um julgamento dramático.
Ellie foi morta dentro de casa, em outubro de 2013. Por unanimidade, o júri considerou seus pais, Ben Butler e Jennie Gray, culpados. Ele foi condenado a no mínimo 23 anos de prisão, e ela, considerada cúmplice, a 42 meses.
O crime consternou os britânicos pela violência: a criança apresentava lesões no crânio e na coluna comparáveis às encontradas em pessoas que sofrem acidentes de carro em alta velocidade e também pelo fato de Butler já ter sido acusado de agredir a filha quando ela ainda era um bebê.
Ele havia conseguido reaver a guarda da menina apenas 11 meses antes de ela ser morta, o que levantou discussões sobre a atuação da Justiça no episódio.
  

Pai perfeito


Em fevereiro de 2007, quando Ellie tinha pouco mais de um mês de vida, exames constataram graves ferimentos em seu corpo.
O pai foi considerado culpado pelas agressões e condenado a 18 meses de prisão em 2009, mas três anos depois a Justiça britânica o inocentou sob a conclusão foi de que os machucados na menina haviam sido "acidentais".
Isso ocorreu após uma pesada campanha pela absolvição de Butler, comandada pelo famoso agente publicitário britânico Max Clifford, que mais tarde seria condenado por assédio sexual.
Pouco antes de conseguir a vitória, o casal participou de programas de TV britânicos. Na ocasião, Gray dizia que o marido "estava tentando ser o pai perfeito".


Ellie viveu com os avós enquanto esteve separada do pai

A decisão de devolver a guarda, no fim de 2012, ocorreu mesmo após assistentes sociais e os próprios avós de Ellie, com quem a menina estava vivendo, tecerem críticas ao pai.
"Ela (a juíza) vai ter sangue em suas mãos se fizer isso", havia dito Neal Gray, o avô materno. Segundo a imprensa britânica, o casal gastou todas as suas economias, que totalizavam 70 mil libras (cerca de R$ 350 mil), lutando contra o pai nos tribunais.
Ao absolver Butler, a juíza Mary Hogg escreveu: "É uma alegria para mim ver o retorno de uma filha para os braços de seus pais. Essa história não acaba hoje, ainda há trabalho a ser feito".
Com a decisão, o serviço de proteção dos assistentes sociais à garota foi suspenso e substituído por uma agência independente, responsável pelo acompanhamento do retorno da criança ao convívio dos pais.
Na imprensa, foram publicadas várias reportagens sobre a "família injustiçada" e o primeiro Natal que eles passariam juntos, poucos meses depois, ela seria assassinada.
  
Foto: Met Police

Surto de raiva


A menina de seis anos foi encontrada morta na casa da família em Sutton, a sudoeste de Londres, em 28 de outubro de 2013. Segundo a acusação, Butler teve um surto de raiva e aplicou golpes na cabeça de Ellie até que ela morresse.
Jennie Gray, afirmou a Promotoria, foi chamada pelo companheiro quando estava no trabalho. Ao chegar em casa, viu a filha morta, mas não ligou imediatamente para o serviço de emergência. Ela acabou condenada por crueldade infantil e por ter encoberto o homicídio.
  
Jennie Gray foi condenada por ajudar marido a tentar encobertar o crime

O casal também inventou um plano para tentar destruir as provas do crime e encenar uma queda acidental antes de chamar a ambulância, uma farsa que envolvia o irmão mais novo de Ellie.
Eles mandaram a criança ir ao quarto da menina chamá-la para comer bolo - quando chamaram a emergência, duas horas após a morte da filha, era possível ouvir o menino dizer que "Ellie não estava acordando".
O juiz do caso, Alan Wilkie, disse a Gray que ela havia sido "excepcionalmente inocente e boba" para acreditar em Butler e aceitar ser cúmplice dele na morte da filha.
Ele afirmou ainda que a mulher, que era verbal e fisicamente abusada pelo marido, tinha uma dependência tão profunda dele que estava disposta a fazer qualquer coisa pelo companheiro, inclusive participar daquela "farsa grotesca".
Sobre Butler, Wilkie disse: "Você é um homem egoísta, de temperamento difícil, violento e dominador, que considera seus filhos e sua parceira como troféus, como se eles não tivessem qualquer função a não ser satisfazer suas fantasias infantis e sentimentalizadas na vida familiar. Com você como patriarca a quem todos deveriam obedecer."

Revisão

A investigação sobre a morte de Ellie fez com que a Justiça revisasse o caso que absolveu Ben Butler no passado. Com isso, novas informações vieram à tona.
Ao considerar que o pai da menina não havia sido responsável pelos ferimentos em Ellie quando bebê, a juíza Mary Hogg afirmou que havia ocorrido um "erro judicial".
O efeito disso foi a revogação de qualquer forma de proteção à menina, que retornou à casa dos pais sem qualquer acompanhamento para saber se ela estava sendo bem cuidada.
"A ordem da juíza deu permissão a Butler para apresentar o documento emitido por ela a qualquer escola, médico, assistente social, enfermeiro ou policial que viesse a entrar em contato com a família", explicou o repórter da BBC que cobriu o caso, Gaetan Portal.
"Butler teve, como efeito disso, a garantia de uma poderosa arma legal contra qualquer um que levantasse questionamentos ou preocupações sobre o bem-estar de Ellie no futuro. A juíza também determinou que os assistentes sociais locais não poderiam mais supervisionar a menina."
Profissionais independentes ficaram com a missão de acompanhar o caso, mas nunca receberam informações sobre o histórico da família ou sobre as questões que pairavam sobre Butler, que tinha outros históricos de violência.
Eles foram orientados apenas pela decisão de Hogg, que classificava todas as acusações contra o pai como "um erro".
A equipe de assistentes sociais independentes acompanhou o retorno de Ellie para casa por três meses e não reportou nenhum problema familiar. Eles entregaram o relatório final à Justiça em abril de 2013, seis meses antes do crime.
Segundo funcionários da escola da menina, ela faltou bastante à escola nos meses anteriores a seu assassinato. Ao ser cobrada pelo envio de atestados médicos que comprovassem os motivos das ausências, Grey ficou "brava e agressiva", disse ao júri a assistente administrativa Kelly Vennard.
O avô materno de Ellie critica o sistema que permitiu a devolução da guarda da neta a seu assassino.
"O sistema falhou com ela, e conosco também. É tarde demais para Ellie, mas não para salvar outras crianças", afirmou ao jornal The Guardian.

"Quero garantir que isso jamais ocorra com outra criança."

Disponível em:
OBSERVAÇÃO: No Brasil, após a Justiça confirmar que o filho continuaria sob a guarda do pai, este com a cumplicidade da madrasta do menino, o matou com dose de injeção letal. Até quando, essas histórias irão se repetir? É o que nos perguntamos ao tomar conhecimento de fatos tenebrosos como esses que aconteceram com Bernardo, com Isabela, com Alex, com Joana e com Ellie e que continuam a acontecer diariamente com milhares de crianças pelo mundo afora. Quando a violência aflora num lugar que deveria ser classificado como o mais inimaginável: o lar.

As pessoas humanas são passíveis de erro e os criminosos estão mais do que  dispostos a contribuir com essa ideia. Qual a solução afinal? Ouvirem mais as crianças, ficando sensíveis às suas necessidades? Os exemplos está aí: então, onde afinal, reside o engano? Na pessoa humana que acredita no seu semelhante ou que está mais preocupada em manter suas relações, ainda que tóxicas? Na autoridade competente que está mais preocupada em resolver a situação ou em praticar a Justiça? 

Jussara Uglione tentou reiteradamente obter a tutela do neto mas sem sucesso, constatando aí, uma desoladora semelhança com o caso de Ellie. O mais fraco, literalmente,  não vence o mais forte nunca. Somente numa causa realmente justa é que o fraco vence o forte (Sófocles).

Essa é a questão fundamental: a causa justa, de fato, em prol de qualquer criança, indiscriminadamente. Parafraseando o avô materno de Ellie:
É tarde demais para Bernardo Uglione Boldrini, mas não para outras crianças.
Precisamos garantir que isso nunca mais se repita com nenhuma criança!

JUSTIÇA PARA ODILAINE E BERNARDO UGLIONE BOLDRINI!


terça-feira, 30 de agosto de 2016

Arquivado pela segunda vez, o inquérito da morte de Odilaine Uglione


ARQUIVADO O INQUÉRITO QUE APUROU PELA SEGUNDA VEZ, AS CIRCUNSTÂNCIAS SOBRE A MORTE DE ODILAINE UGLIONE, MÃE DO MENINO BERNARDO

Foto: arquivo pessoal

Transcrição :Texto: Janine Souza (com alguns grifos nossos)
Assessora-Coordenadora de Imprensa: Adriana Arend
Imprensa@tj.rs.gov.br


Processo n° 21000027793 (Comarca de Três Passos)


Por não apresentar elementos novos a ser investigados e tampouco suficientes para afastar o conjunto de provas que apontam para o suicídio da vítima, o Inquérito Policial que apura as circunstâncias da morte de Odilaine Uglione deve ser arquivado. A decisão, da Juíza de Direito Vivian Feliciano, da 1ª Vara da Comarca de Três Passos, é desta terça-feira (23/08/2016). De acordo com a conclusão das investigações, a mãe do menino Bernardo cometeu suicídio, em fevereiro de 2010, no consultório do marido, o médico Leandro Boldrini.

Juíza Vivian Feliciano:
- "conclusão da Autoridade Policial e o pedido de arquivamento feito pelo Ministério Público não estão dissociados das provas apresentadas no Inquérito Policial, sendo inviável determinar que a polícia judiciária faça novas diligências. Além de ser esta uma atribuição do órgão acusador, as inconformidades da parte interessada não trouxeram elementos novos, desconhecidos da autoridade policial, a serem investigados, tampouco, mostram-se suficientes para afastar o conjunto de provas que apontam para o suicídio da vítima".

A investigação havia sido desarquivada a pedido da mãe de Odilaine, Jussara Uglione, após peritos contratados por ela concluírem que a carta supostamente deixada pela filha, antes de morrer, teria sido escrita por outra pessoa.  


O caso Odilaine Uglione

A mãe do menino Bernardo faleceu em 10 de fevereiro de 2010, em decorrência de disparo de arma de fogo, efetuado no consultório do marido dela, Leandro Boldrini. O Inquérito Policial instaurado para apurar as circunstâncias da morte apontou que ela cometeu suicídio, e foi arquivado. Jussara Uglione pediu a reabertura das investigações, amparada em parecer técnico de peritos particulares, os quais apontavam que a carta suicida deixada pela vítima teria sido supostamente redigida pela secretária de Leandro Boldrini, bem como que haveria uma terceira pessoa dentro do consultório, junto com o médico e a esposa.

O Ministério Público entendeu que havia lastro suficiente para investigar uma nova versão do fato e o expediente foi desarquivado, dando-se continuidade às investigações.Após inúmeras diligências, a autoridade policial concluiu pela ocorrência de suicídio.


A carta foi escrita por Odilaine Uglione, afirma IGP/RS

Por meio de perícia grafotécnica, a conclusão do Instituto Geral de Perícias (IGP) foi de que a carta deixada foi realmente escrita por Odilaine. 

Juíza Vivian Feliciano:
- "Concluíram os peritos oficiais que os escritos e a assinatura da carta encontrada na bolsa da vítima no dia dos fatos foi produzida pelo mesmo punho escritor que produziu o material padrão analisado, ou seja, por Odilaine Uglione".

Não concordando com o resultado, a Defesa de Jussara sustentou que deveria haver dois laudos periciais individuais e não apenas um a apontar o resultado de dois exames, realizados sobre as escritas de Odilaine e da secretária de Boldrini, apontada como possível autora da carta. 

Juíza Vivian Feliciano:
-"Essa impugnação, contudo, foi feita de forma genérica, vindo desprovida de qualquer indicativo de prejuízo efetivo no resultado das análises por meio de um único laudo, não servindo, pois, para afastar a credibilidade do parecer oficial. A par disso, a perícia do IGP, com base na uniformidade dos relatos das testemunhas presentes na clínica médica, também foi conclusiva no sentido de que não havia ninguém, além de Leandro Boldrini e Odilaine, na sala de atendimento".


Odilaine Uglione efetuou o disparo

De acordo com o laudo de reconstrução tridimensional dos fatos, cinco posições da vítima foram simuladas para fins de visualização de possível atirador. Uma delas foi descartada em razão do ângulo do tiro no crânio da vítima. 

Juíza Vivian Feliciano:
-"Das quatro possibilidades restantes e possíveis, em três, a vítima foi o próprio atirador".

A defesa da avó de Bernardo argumentou que Leandro Boldrini teria dito, quando depôs na Delegacia de Polícia de Charqueadas, que "se defendeu" no momento em que Odilaine supostamente sacou a arma de fogo e que o médico teria mentido ao afirmar que machucou sua mão quando tentou acionar o alarme localizado no corredor do 3º andar da clínica. Alegou ainda que testemunhas teriam dito que viram uma cadeira caída e a mesa quebrada na sala em que encontrada a vítima; tudo indicando ter havido luta corporal entre ambos.

Na avaliação da Juíza Vivian Feliciano, em que pese a conclusão pericial não tenha descartado a possibilidade de ser considerada a presença de pessoa diversa da vítima como sendo o atirador, todas as demais provas produzidas no decorrer da investigação, afastaram essa tese.

Juíza Vivian Feliciano:
-" Como apontado pela autoridade policial e pelo Ministério Público, o fato de o laudo dizer que não exclui a possibilidade de ser considerada a presença de pessoa diversa do atirador, não quer dizer que essa terceira pessoa existiu, devendo esta prova ser vista juntamente com as demais".

Os depoimentos colhidos também não apontaram para adulteração do local do crime. Quanto às impugnações ao laudo oficial realizado pelo Departamento de Criminalística, Divisão de Balística Forense, do IGP, deve-se ressaltar que o método utilizado na análise químico-residuográfica para chumbo foi o método colorimétrico, mesma técnica utilizada em 2010. Por outro lado, o método utilizado na análise feita pelo perito particular foi o Atômico Nuclear o que, como apontado pelo próprio IGP, justifica a diferença de resultado.

OBSERVAÇÃO:
"Em março deste ano (2016), dez meses após a reabertura do inquérito, a polícia concluiu pelo suicídio. "Nós verificamos de forma criteriosa, através da realização de diversas oitivas, muitas longas e complexas, e não surgiu nenhum elemento que corroborasse o entendimento de um crime contra a vida", comentou, na época, o delegado Marcelo Lech." 

Disponível em:

JUSTIÇA PARA ODILAINE E BERNARDO UGLIONE BOLDRINI!