A INSTITUIÇÃO SITUADA NA RUA MENINO BERNARDO, EM TRÊS PASSOS, ACOLHE CRIANÇAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Lar Acolhedor / Foto: Rafaella Fraga - G1
A antiga Rua 8080, ganhou no ano de 2015, um novo
nome: ela agora é denominada Rua Menino Bernardo em homenagem a Bernardo
Uglione Boldrini, o menino de 11 anos assassinado pelo pai biológico, o médico
Leandro Boldrini e pela madrasta, a enfermeira Graciele Ugulini, auxiliados por
dois comparsas, Edelvânia Wirganovicz e Evandro Wirganovicz, em um triste caso
que chamou a atenção do País inteiro.
Bernardo foi dado como desaparecido em 04/04/2014,
quando já estava morto, executado como uma injeção letal do medicamento Midazolam aplicada pela madrasta,
após o menino ter sido dopado e conduzido á sua cova na localidade de Frederico
Westphalen. Segundo a cúmplice, Edelvânia Wirganovicz, o menino ainda teve o corpo
encharcado de soda cáustica que a madrasta Graciele havia dito que era para não
dar cheiro e para que o corpo diluísse com mais rapidez.
Este fato tornou notória a história de Bernardo que
numa atitude extraordinária para um menino de apenas 11 anos, se dirigiu
sozinho até o Fórum de Três Passos e numa sala do Ministério Público, sentou-se
no colo da Promotora Dinamárcia Maciel de Oliveira e pediu que lhe conseguisse
uma nova família, já que na sua, a
convivência era insuportável. Tanto é verdade que ele costumava passar vários
dias fora, nas residências dos amigos, sem jamais ser procurado pelos seus familiares.
Desde 2009, que a instituição existe como “Lar
Acolhedor”: o que era para ser somente uma casa de passagem tornou-se moradia
obrigatória para dezenas de crianças e adolescentes que aguardam a oportunidade
de serem adotadas. O caso de Bernardo contribuiu enormemente para sensibilizar
a comunidade para a violência doméstica sofrida pelas crianças e hoje o “Lar
Acolhedor”, com capacidade para 20 delas, está sempre no seu limite.
O Major aposentado Edu Amaro, que trabalhou por mais de três décadas na Brigada Militar, dedica-se
voluntariamente ao projeto e atualmente ele é o Presidente da casa.
Edu
Amaro:
- “Chegamos a ter 25 crianças aqui, por questão de
necessidade. A gente jamais vai deixar de atender uma criança que precise, que
está correndo riscos.”
Entretanto, ele ressalta que situações como a de Bernardo,
que era de família rica, não acontecem,
elas se aplicam às crianças que na sua maioria são vítimas de abusos
sexuais.
Edu Amaro:
-“Boa parte delas são de família humilde, são
retiradas da família em função de abusos sexuais. Alguns maus-tratos, mas o
abuso é um crime que ainda supera sobre os outros. Tanto menino, quanto menina,
desde os pequenos até os adolescentes de 17 anos de idade. Não existe uma faixa
etária específica”.
A equipe de profissionais da instituição é formada
por uma assistente social, uma psicóloga e pelas cuidadoras que se revezam
entre si no acompanhamento das crianças em tempo integral e o local sobrevive
de doações mobilizadas pela comunidade e por diárias pagas pelas diversas
prefeituras da região: Três Passos, Bom Progresso, Bairro do Guarita, Campo
Novo, Esperança, Sede Nova e Tiradentes), onde se unem os esforços na esperança
de que a história do menino Bernardo Uglione Boldrini nunca mais se repita.
Edu Amaro:
- “Quem sabe foi para
que nós possamos abrir os olhos. As crianças são o nosso futuro, algumas passam
por situações que causam traumas na infância. Não queremos dar continuidade a
esses traumas”.
- “Me chama
atenção que, se isso acontece dentro de uma família que, em tese, é
estruturada, o que poderá acontecer com uma família desestruturada? Alguns
casos ficam no tempo, se vão com o vento, e as autoridades, às vezes, nem ficam
sabendo”.
- “O que
aconteceu com o Bernardo foi horrível, mas creio que foi uma exceção, quem sabe
para que nós possamos abrir os olhos. As crianças são o nosso futuro, algumas
passam por situações que causam traumas na infância. Não queremos dar
continuidade a esses traumas”.
Edu Amaro apela
para o sentimento das pessoas: que elas não se calem ao se depararem com situações
de crianças envolvendo risco de morte.
Edu Amaro:
- “O apelo,
portanto, é para que que as pessoas não se calem, e mantenham seus ouvidos
atentos. "Eu acredito que tem que haver ainda mais participação. As
pessoas de uma comunidade são os olhos da polícia. Nós temos que denunciar,
informar. Tem vários contatos que mantém o anonimato. A denúncia pode ser que
evite alguma coisa bem mais grave”.
Com isso, novas
mobilizações começaram para receber uma nova moradora: em breve uma adolescente
de 14 anos, grávida de cinco meses, deverá ser recepcionada pelo “Lar Acolhedor”.
Susana Ottonelli, ex-professora de Bernardo, juntamente com um grupo de amigas,
frequentemente articulam campanhas com o propósito de angariar doações de
alimentos, roupas e produtos de limpeza para o “Lar Acolhedor” e para outras
instituições que atendem idosos carentes.
Susana Ottonelli:
-“Já vamos
começar a ver roupas, para ela e para o bebê. Fazemos isso por nós e pelo Bê
também. Ele também gostava de ajudar o próximo. Talvez esse seja o
legado de Bernardo”.
Reprodução RBS TV
Disponível em:
JUSTIÇA PARA ODILAINE E BERNARDO UGLIONE BOLDRINI!